Aqui no Palavra-padrão, não compramos essa ideia de que as redes sociais servem para afastar as pessoas. Poderíamos ficar aqui a enumerar as mil e uma razões que nos fazem pensar assim, mas vamos deixar-vos só com esta prova evidente: as e-conversas do palavra-padrão, que mais não são do que "conversas de café" através do Messenger! Depois de um primeiro episódio sobre viagens, estamos de volta, desta vez para falar sobre o Porto!
E connosco temos:
Joana de Abreu
25 anos, residente em Valongo mas tem o Porto como primeira casa. Do mestrado em Arte e Design para o espaço público resultou, em 2016, o projeto
Preencher Vazios, que consiste em espalhar azulejos com frases inspiradoras pelas fachadas do Porto e Lisboa.
Joana Ribeiro Santos
Socióloga de formação com interesse nas áreas do planeamento urbano, recomposições sociais e desenvolvimento local.
Amante do Porto e ávida por "conhecer novas casas e fachadas, novos rostos e gentes".
Rita Barbeitos
Tem 26 anos e, enquanto guia intérprete, trabalha a viajar um pouco por toda a parte. Ainda assim, o Porto é a morada de excelência, por quem nutre um carinho especial.
Aquando esta e-conversa, encontrava-se em Bilbao.
"O Porto está rejuvenescido mas estamos a afastar os locais do centro." Rita Barbeiros
Este foi o mote da Rita, certeira nas palavras e nos afetos, que logo nos envolveu numa "discussão" que muito tem que se lhe diga. O pontapé de saída, tema incontornável, foi a onda turística impossível de ignorar para quem se movimenta na invicta: são os preços das casas que disparam, os autocarros e as ruas lotadas, o receio de que o espectáculo montado para atrair esteja, na verdade, a descaracterizar os bastidores. Ainda assim, durante toda a conversa, falou-se do Porto como se fala de um amor a quem se perdoam estes deslizes de encanto por um admirável mundo novo.
O Porto cruzou-se na vida de cada uma delas em momentos diferentes - mais cedo para Rita, nascida no coração da cidade, e mais tarde para as Joanas, a quem a faculdade abriu as portas para um novo olhar sobre uma cidade de visitas ocasionais. Ainda assim, como todos a quem o Porto não passa ao lado, partilham um sentimento de pertença que não esmorece e um orgulho que deixa as palavras à porta.
"O mestrado que tirei em Belas Artes, fez-me ter uma ligação mais forte com a cidade, e sendo o mestrado relacionado com espaços públicos, a relação que comecei a ter com o Porto foi ligeiramente diferente. Comecei a vê-lo com o olhar das outras pessoas, daquelas que vivem aquele espaço, que as poucos começam a deixar de ser tão delas e passam a ser também de outras pessoas.
Mas eu continuo com o meu olhar sobre o Porto. Ou seja, eu tenho dois olhares, o meu, que aos poucos vou-me integrando na cidade, e daqueles em que a cidade era deles antes de ser minha." Joana d'Abreu
A reflexão da Joana dos Azulejos, como carinhosamente distinguimos aqui no pátio para que não se confunda com a Joana da Rua das Flores (objeto de estudo da tese em Sociologia) deu o mote para uma outra discussão sobre o sentimento de pertença em relação a um espaço. O que implica sentir uma cidade como "nossa"? Onde começam e acabam os nossos direitos para com um espaço e os que lá vivem? Para a Joana, é importante perceber que cada um de nós tem um Porto, e o ideal é que os nossos Portos não colidam com os dos outros. No fundo, é unânime a posição de que a cidade é de todos, e para que essa partilha resulte, é preciso trabalhá-la a vários níveis: planeamento e ordenamento territorial, políticas urbanas capazes de equilibrar as forças em conflito são cada vez mais uma necessidade, sobretudo para preservar a memória da cidade e das comunidades que lhe dão vida.
Apesar disso, é importante "não perder o Norte" e dar a mão à palmatória em como o Porto, apesar dos deslizes, tem muito para celebrar. A Rita recorda-nos que o turismo é bom, se equilibrado, e que tem a vantagem de nos permitir conhecer pessoas de todo o mundo e partilhar experiências. Dá como exemplo a (re)descoberta das Virtudes, que está também no seu top de lugares favoritos da cidade.
Mas não foi só o Porto das bocas do mundo que esteve presente na conversa. Falou-se de Campanhã e do Bonfim, das ilhas e outras zonas menos exploradas que não deixam de ser espaços com tesouros inimagináveis, e que passam despercebidos na maior parte das vezes.
O sotaque, "Ò meu amor, não quer uma frutinha fresquinha?";
O som do elétrico e do senhor que toca acordeão na esquina do metro do bolhão;
Os sons do São João e da rapaziada a saltar da ponte D. Luís;
As gaivotas e o som do comboio a anunciar uma nova partida;
O relógio da C&A...
Francesinhas!
"Um agridoce. Que se estranha mas se entranha e não sai de nós";
Das tripas à moda do porto, das sardinhas frescas e dos pimentos ainda a cheirar a carvão.
Sardinhas assadas e pimentos;
Sandes de pernil com queijo da serra do Guedes;
"O cheiro a castanhas assadas! Ou ainda o cheiro a açúcar amarelo que incrivelmente sinto quando passo por baixo das árvores ao pé do silo alto antes da trindade";
O cheiro do rio junto aos barcos na Foz Velha;
"Quando se entra numa mercearia e se sente aquele cheiro "salgado" dos Bacalhaus e dos fumeiros".
Azulejos, claro, diz a Rita, e também a arte urbana.
Azulejos azuis para a Joana dos Azulejos.
Já a Joana da Rua das Flores diz que tem dificuldade em escolher um padrão..."Porque vejo muitas imagens e muitas emoções. Mas se pudesse "padronizar" o porto, ele seria uma aguarela com a cor de todas as casas, da roupa a secar e do ferro da ponte. Até teria algum musgo à mistura. Seria o Porto-Padrao, assim uma mescla à sua maneira. "
Para terminar esta viagem virtual pelos sentimentos Portuenses, deixámo-vos com a partilha da Joana, que faz todo o sentido para esta e-conversa.
Esperamos que tenham gostado da leitura! Há algum tema que gostassem de ver abordado nas e-conversas?! Temos alguns pensados, mas seria bom ter outras opiniões! :)
Beijinhos e abraços, e muitos palhaços,
Daniela e Artur
Emocionei-me com esta e-conversa! Porque em mim também cabe o Porto. Aliás, desta cidade incrível só me separa uma ponte. E, sempre que possível, lá dou por mim a atravessá-la. A perder-me do lado de lá da margem.
ResponderEliminarAcredito que o Porto é do mundo. Que temos que o saber partilhar. Mas também sinto que não pode ficar esquecido esse lado familiar, tão nosso. Por isso, sim, tem que haver um equilíbrio entre o que se faz para as gentes da terra e o que se faz para o turismo. Porque o primeiro grupo permanece, independentemente da altura do ano.
Tudo no Porto é maravilhoso. E acho que há sempre um novo recanto para descobrir. E eu também tenho aquele Porto turístico e um Porto que é só meu, porque há espaços que nos conquistam com muita naturalidade
Não poderia concordar mais com as tuas palavras, Andreia! Ficamos muito felizes que tenhas gostado desta ler conversa, tanto quanto nós de a fazer! Beijinhos
EliminarO Porto onde a minha mulher estudou, muitos anos antes de eu a conhecer, de imaginar que a iria conhecer aqui em Macau.
ResponderEliminarUma maravilha cantada divinamente pelo Rui Veloso.
Que coincidência encantadora! O mundo é afinal bem mais pequeno do que julgamos :)
EliminarBom fim-de-semana!
Adorei esta e-conversa e dou-vos os parabéns por este espaço tão especial.
ResponderEliminarObrigado pela visita ao meu cantinho, irei começar a Divagar por aqui.
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Obrigada Maria, muito bem-vinda ao nosso pátio! :)
EliminarBeijinhos
Esta iniciativa é fantástica e muito bem conseguida.
ResponderEliminarGostei muito desta e-conversa.
Obrigada Diana! :) Um grande Beijinho
Eliminarr: Muito obrigada, de coração *.*
ResponderEliminarVisitei o Porto em Setembro passado, depois de muitos anos sem la ir e adorei. A cidade esta fabulosa, renovada, animada...Adorei!!
ResponderEliminarEstá sim, Sami, está uma beleza, mas infelizmente para quem cá vive e/ou trabalha tem sido um sentimento agridoce ver a nossa casa crescer de uma forma um bocadinho descontrolada... esta conversa foi uma forma de refletir sobre este espaço que nos enche o coração e que merece um crescimento sustentável e pensado sempre em favor das pessoas :) beijinhos
EliminarObrigada pela visita. O porto não é a minha cidade, mas gosto dele. Como gosto de outras cidades. Rui Veloso e Carlos T contribuem para o esboço do mito.
ResponderEliminarPor muito que andemos de olhos bem abertos, há sempre um recanto que fica por descobrir. Assim é o Porto! Na zona do Bonfim, há umas escadas que nos levam de Fernão Magalhães à Rua do Bonfim, foi o meu trajecto durante algum tempo para o Liceu Rainha Santa Isabel. Na zona da Sé temos o já famoso Bairro Herculano, um local habitacional que liga a Rua das Fontainhas à Rua Alexandre Herculano. Não parem de descobrir o nosso Porto, como ele não há igual.Bjs
ResponderEliminar