Lê-me | Turtles all the way down

17 dezembro 2017

Turtles all the way down, ou em português, Mil vezes adeus, não é um livro sobre Aza, uma adolescente que se debate com o aperto das espirais da ansiedade e do transtorno obsessivo compulsivo. É um livro sobre todos nós, que em algum momento nos debatemos com algo maior que nós mesmos, algo que nos foge ao controlo e nos faz questionar o que seremos, afinal, debaixo de tudo aquilo que achamos ser. Nesta nova edição do "Lê-me", vamos viajar pelas páginas do mais recente livro do John Green, autor consagrado de livros como "A Culpa é das Estrelas" e "À procura de Alasca".

Não sei precisar o momento em que decidi que leria qualquer livro que o John Green viesse a publicar, mas posso dizer que quando soube que já havia saído em português, no dia seguinte já tinha o meu exemplar na mão. À parte de ser a pior tradução de título de que há memória, trouxe-o para casa com a sensação desconfortável de poder não estar à altura das expetativas que vim a construir. Ainda assim, durante as viagens para o trabalho, mergulhei na mais recente história de um dos meus escritores mais queridos do coração, e deixei que ele me surpreendesse, mais uma vez. 

Aza Holmes, uma jovem de 16 anos, juntamente com a sua melhor amiga Daisy, decidem investigar o desaparecimento de Russell Pickett, um bilionário fugitivo, com a intenção de deitarem mão a uma generosa recompensa. A facilitar-lhes a tarefa está o facto de Davis, o filho de Pickett, ser amigo de infância de Aza, embora já não mantenham contacto há alguns anos.

Aza e Davis partilham uma condição que os aproxima por defeito, ambos estão irremediavelmente marcados pela morte de um dos pais, e cada um, à sua maneira, acaba por enfrentar uma batalha contra algo que os ultrapassa: ela contra o seu pensamento asfixiante, controlado pelos sintomas do transtorno obsessivo compulsivo, ele contra a solidão e o peso que o legado das circunstâncias pode ter na forma como nos definimos. 
Com seu já habitual jeito descontraído e cómico, John Green atravessa uma série de questões que vão muito além daquele que parece ser  o tema principal do livro: a doença mental. Trata-se de uma viagem por uma série de questionamentos e inseguranças que todos, em algum momento da vida, acabamos por sentir; o medir forças entre aquilo que nos afasta da melhor versão de nós mesmos, e aquilo que nos arrasta em direção ao que achamos não ter solução. 
Por diversas razões, este foi um dos meus livros favoritos do John Green, especialmente porque o nível de densidade e complexidade das personagens é muito maior do que qualquer outras do John Green até agora. 

A Daisy e a dualidade virtual-real, fragilidade-coragem, insegurança-confiança, é uma personagem que causa empatia imediata; o Davis e a forma equilibrada e sensata como vê o mundo, em contradição com as circunstâncias instáveis que o rodeiam, e a Aza e a sua luta interna contra a doença e a racionalização excessiva do Ser, fazem um trio que dificilmente deixa indiferente qualquer um que leia esta história.


Para mim, um 8 em 10, perdendo apenas para as Cidades de Papel!

"So there’s this scientist, and he’s giving a lecture to a huge audience about the history of the earth (...) , and then at the end, he asks if there are any questions. An old woman in the back raises her hand, and says, ‘That’s all fine and good, Mr. Scientist, but the truth is, the earth is a flat plane resting on the back of a giant turtle.’

The scientist decides to have a bit of fun with the woman and responds, ‘Well, but if that’s so, what is the giant turtle standing upon?’

And the woman says, ‘It is standing upon the shell of another giant turtle.’

And now the scientist is frustrated, and he says, ‘Well, then what is that turtle standing upon?’

And the old woman says, ‘Sir, you don’t understand. It’s turtles all the way down.’

I laughed. - It’s turtles all the way down.

It’s turtles all the way fucking down, Holmesy. You’re trying to find the turtle at the bottom of the pile, but that’s not how it works.”

9 comentários:

  1. Tenho que acrescentar à minha lista de livros a comprar! Deixaste-me bastante curiosidade com a tua opinião :)
    De John Green só li «A Culpa é das Estrelas» e adorei. Muito recentemente, comprei «Will e Will»

    r: Concordo contigo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vale mesmo a pena, Andreia, é uma leitura poderosa! :) De todos dele, "A Culpa das Estrelas" é talvez que menos me dá vontade de reler... Sugiro as "Cidades de Papel", o meu favorito ^_^

      Eliminar
  2. Eu não gosto muito desse autor, não gosto muito das histórias dele mas achei o nome desse livro bem diferente e curioso haha.

    https://heyimwiththeband.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu pessoalmente sou grande fã! Estava reticente ao início, mas assim que li as "Cidades de Papel", rendi-me! :) Ainda assim, ainda bem que nem todos gostamos de ler as mesmas coisas, aí é que está a graça! :D

      Eliminar
  3. Eu já li alguns livros deste autor e gosto bastante. Gosto da forma como ele aborda os temas, sem tabus. Há que falar das coisas abertamente, mesmo daquelas que todos tentam ignorar. Não conhecia este livro e fiquei muito curiosa!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida, Cláudia! Ainda há uns dias falava com uma amiga de como o John Green consegue uma proeza fenomenal, que é fazer chegar temas delicados, de uma forma divertida e cativante, a faixas etárias e backgrounds muito distintos! Eu acho que isso é o verdadeiro encanto da leitura dele, é muito fácil de uma pessoa se identificar com o que ele descreve e aborda porque é escrito de uma forma muito natural e pouco forçada! :)

      Eliminar
  4. Já o queria ler desde o Natal, quando o vi exposto na livraria.
    Pensei duas vezes porque não fiquei muito convencida com os últimos livros do John Green que tinha lido, no entanto, com esta publicação conseguiste-me convencer e entusiasmar para comprar e ler! Quero imenso!

    ResponderEliminar

Palavreiro(a), vai em frente, partilha connosco as tuas palavras :)